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Low costs no Brasil – parte 2: aéreas inter vieram para ficar

Nesta segunda reportagem do especial Low costs no Brasil, o Portal PANROTAS avalia a chegada das empresas aéreas de baixo custo internacionais ao País: quais devem chegar, por que agora, se e como a desregulamentação do mercado aéreo brasileiro ajuda, em que momento se encontram as low costs internacionais, como a legislação brasileira trata o assunto e se elas devem encontrar ou não um bom ambiente para crescer no Brasil.

QUAIS LOW COSTS DEVEM VIR?

Se os especialistas não acertaram em cheio no que diz respeito às quedas nos preços da aviação doméstica com a autorização da cobrança pelo despacho de bagagens, como apontamos na primeira reportagem deste especial, ao menos na ascensão do modelo low cost eles estavam corretos: neste ano já foi revelado o interesse de, ao menos, seis companhias internacionais de baixo custo do Brasil. É a vez do nosso País, depois de vermos as low cost invadirem o Chile, Argentina e México, por exemplo.

Duas delas, a norueguesa Norwegian Air e a argentina Avian Lineas Aéreas, subsidiária da Avianca Argentina, já receberam autorização da Anac em julho e agosto para operar voos ao Brasil, marcando oficialmente a chegada das low costs no País. Falta apenas ambas identificarem as operações específicas que farão iniciar as vendas e, enfim, inaugurar seus voos – lembrando que a europeia Norwegian já manifestou interesse em destinos como Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, com voos partindo de Londres.

A argentina Flybondi também praticamente confirmou a intenção de voar ao País. A companhia recebeu autorização do governo argentino para 26 rotas ao Brasil no mês passado – falta solicitação formal à Anac. Já a chilena Sky Airline, segunda maior do país latino e que já esteve por aqui, solicitou na semana passada autorização à Anac para realizar operações regulares para o Brasil, que devem começar já em novembro.

Completam a lista a malaia Air Asia, eleita a melhor companhia de baixo custo do mundo pelo Skytrax em julho deste ano, e ainda a Flycana, recém-nascida aérea da República Dominicana – ambas demonstraram interesse em voar ao Brasil, embora sem maiores detalhes até o momento.

POR QUE AGORA?

Diversos fatores colaboraram para isso, mas o principal deles é “o bom ambiente regulatório nacional, que deste a regulação 400 da Anac, está mais aberto para atrair voos”, justifica o superintendente de Acompanhamento de Serviços Aéreos da Anac, Ricardo Catanant.

Segundo ele, além do óbvio interesse dos consumidores em preços reduzidos, o que atraiu as low costs para o País foi a possibilidade de finalmente lucrar com cobrança dos serviços auxiliares, algo engessado antes da mudança da regulação da Anac de 2016: cobrança de bagagens, alimentação, escolha de assentos… A possibilidade de gerar receitas com estes produtos atrai, enfim, as low costs, que focam em oferecer a menor taxa possível mas sem incluir a maioria dos serviços abrangidos pelas aéreas tradicionais.

VOOS INTERCONTINENTAIS

Outro fator levantado por Catanant é um recente movimento das low costs, que foi inclusive acompanhado pelas aéreas tradicionais: explorar rotas de longo curso sem despacho de bagagens. Trata-se de passagens de baixo custo similares ao modelo já aplicado pelas low costs em voos domésticos ou, no máximo, entre países próximos, mas agora aplicados em trajetos intercontinentais – algo na «moda» na aviação desde o ano passado, principalmente entre Europa e América do Norte.

O crescimento do número desse tipo de voo, categorizado por algumas delas pela nomenclatura HBO (hand baggage only, em inglês), “coincidiu com a mudança regulatória no Brasil, e fez com que o País também se tornasse alvo de futuros internacionais voos sem despacho de bagagem”, explicou o executivo da Anac se referindo principalmente à Norwegian, única aérea de baixo custo europeia que manifestou interesse no Brasil até o momento.

Um terceiro fator citado por Ricardo Catanant foi uma maior abertura do Brasil para acordos de céus abertos, o que torna ilimitado o número de voos, empresas aéreas e passageiros voando entre dois países (ou até com um continente, como entre o Brasil e a Europa). Os dois principais exemplos disso são Estados Unidos e Reino Unido – o segundo ainda em vias de ser concluído, e para onde devem ser lançados em breve voos da Norwegian para o Brasil.

“Isso tudo ajudou a criar um ambiente propício para a chegada das low costs no País”, resumiu o executivo da Anac.

VIERAM PARA FICAR?

A princípio sim. Se todas as vantagens regulatórias forem mantidas, as aéreas de baixo custo tem tudo para conseguir lucrar em voos internacionais para o Brasil valendo-se das receitas com serviços auxiliares. Para se ter uma ideia da representatividade das chamadas ancillaries no restante do mundo, elas foram responsáveis, sozinhos, por US$ 82,2 bilhões em faturamento de todas as aéreas globais em 2017 – número já próximo dos US$ 129 bilhões gastos em combustível no ano.

Contratempos, porém, são possíveis, e recentes reviravoltas da legislação brasileira podem prejudicar a atuação das low costs no Brasil. O Senado, por exemplo, aprovou no mês passado projeto que proíbe companhias aéreas de cobrarem valor adicional pela marcação antecipada de assentos, enquanto a OAB, dois meses antes, encaminhou à Anac um pedido de providências contra o aumento exagerado do preço cobrado pelo despacho de bagagens nas aéreas Gol e Azul – dois dos principais serviços auxiliares que poderiam dar lucro às aéreas de baixo custo no País.

Tudo depende, enfim, do governo brasileiro manter o ambiente favorável para as low costs investirem no Brasil…

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