A criação de uma taxa global sobre jatos executivos e particulares –anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a COP30, em Belém (PA)– preocupa a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), que representa as principais companhias aéreas do mundo.
A medida faz parte da proposta do governo brasileiro conhecida como “Rota de Baku a Belém para US$ 1,3 trilhão”, que busca levantar recursos anuais para financiar ações de combate às mudanças climáticas, inclusive por meio da taxação de setores como o aéreo e o marítimo.
Em entrevista exclusiva ao Poder360, o gerente de Sustentabilidade da Iata para as Américas, , 39 anos, afirma que tributar mais a aviação pode prejudicar o próprio esforço global de descarbonização do setor. Segundo ele, a indústria opera com margens de lucro estreitas, de 3,4% em média, e já planeja investir US$ 4,7 trilhões até 2050 para atingir a meta de emissões líquidas zero de carbono.
“O anúncio feito nesta COP sobre a criação de uma taxa global de solidariedade sobre jatos executivos e particulares busca gerar cerca de US$ 78 bilhões por ano, em um setor que realmente lucra cerca de US$ 32,4 bilhões. Temos, portanto, uma margem de lucro estruturalmente pequena, de cerca de 3,4% em média mundialmente. Incluir esse tipo de penalização não apenas dificulta o crescimento da indústria, mas também desvia recursos de nossas próprias estratégias de descarbonização”, disse.
De la Fuente ressalta que o setor tem avançado em soluções sustentáveis, especialmente com o desenvolvimento dos SAF (Combustíveis Sustentáveis de Aviação), apontados como o principal caminho para reduzir emissões até 2050. No entanto, o desafio está na escala e no custo.
“No último ano, conseguimos produzir apenas cerca de 1,3 [milhão] ou 1,4 milhão de litros de SAF, o que representa apenas 0,2% da demanda total de combustível de aviação. Nossa meta é produzir 500 milhões de toneladas até 2050. Países como o Brasil, com grande disponibilidade de matéria-prima e experiência em biocombustíveis, podem acelerar esse processo e se tornar protagonistas nessa transição”, declarou.
O relatório mais recente da Iata, elaborado em parceria com a Worley Consulting, estima que o Brasil tenha potencial para produzir de 9 bilhões a 12 bilhões de litros de SAF até 2035, podendo ultrapassar 20 bilhões até 2050. Ainda assim, o custo do novo combustível –que pode chegar a US$ 2.000 por tonelada, ante US$ 600 a US$ 800 do combustível fóssil– continua sendo o principal obstáculo para o avanço da indústria no país.
“Sem apoios como isenções fiscais, padrões de combustível de baixo carbono ou mecanismos de geração de créditos, essa diferença de custos pode tornar o cumprimento da lei do Combustível do Futuro economicamente insustentável para o setor aéreo doméstico”, alertou…