Desde 28 de março, a viação aérea Gol adequou sua malha aérea à nova e reduzida demanda em razão da Covid-19. A recomendação de suspender viagens por turismo, entre outras advertências de especialistas em saúde, fez com que a empresa diminuísse a quantidade de voos diários em quase 95%, passando de 800 para 50 operações no Brasil. Para garanti-las, no entanto, o comandante Ricardo Martinez e a chefe de cabine Juliana Mielke, entre muitos outros funcionários do setor, precisaram continuar trabalhando.
— Sabemos que muitas pessoas, até mesmo profissionais de saúde, precisam desse transporte. Então, é muito gratificante estar ajudando de alguma maneira (no combate à pandemia) — afirma Juliana.
O comandante confirma que, apesar do pouco contato com os passageiros, é notório que não é o turismo que tem motivado os deslocamentos. E acrescenta que sua tarefa vai além de levar pessoas.
— Em um dos meus últimos voos, levei 400 quilos de álcool em gel de São Paulo para Salvador. Tenho transportado muitos insumos para as capitais. Já levei equipamentos médicos, assim como órgãos para transplante — diz Martinez: — Nosso serviço é essencial para a população. O avião consegue cumprir distâncias grandes em pouco tempo, como uma ida de São Paulo a Manaus, que levaria dias por vias terrestres, em quatro horas.
Martinez e Juliana, que pousaram no Aeroporto Internacional Tom Jobim, nesta terça-feira (dia 21), são personagens da série “Os Essenciais”, na qual o EXTRA mostra as rotinas e os desafios de profissionais que seguem na ativa neste período em que, para a maioria da população, o pedido é para que não saiam de casa.
Para os dois, a necessidade financeira também foi determinante para não aderirem à Licença Não Remunerada Voluntária, oferecida pela Gol aos funcionários. Entre os dois mil pilotos e copilotos da companhia, 412 fizeram a adesão. E entre os três mil comissários, 700 aceitaram a licença.
Jornadas são cansativas
A importância de suas tarefas e as muitas contas a pagar, no entanto, não diminuem a preocupação do piloto e da comissária. A jornada ainda mais intensa agora os expõe ainda mais.
— A loucura está fazendo parte da gente. Já deixei um saco perto da porta de casa para tirar toda a roupa assim que chego. Levo, então, direto para a lavanderia e vou tomar banho. Eu me lavo muito, pois a sensação é de que a gente está mais suja. Ficamos muito preocupados de estar levando o coronavírus para dentro de casa — lamenta Juliana, de 38 anos, que mora com o marido e os filhos, de 22 e 5 anos.
Estar em aeroportos, por onde passam tantas pessoas de lugares diferentes, aumenta os riscos de contaminação. Além disso, o caminho para chegar ao trabalho é cansativo. Para participar de dois voos nesta terça-feira, Juliana teve que sair de casa, em Campinas, no interior de São Paulo, um dia antes.
— Para evitar transportes coletivos cheios e também porque a oferta deles diminuiu, peguei um ônibus na rodoviária de Campinas às 18h de segunda-feira para ir para a capital — explica ela.
Na cidade de São Paulo, Juliana mantém com outras oito comissárias uma quitinete para facilitar suas jornadas. Foi onde ela dormiu para, na manhã desta terça-feira, seguir para o Aeroporto de Congonhas, de onde sai um ônibus oferecido pela Gol para levar funcionários até Guarulhos, ponto de partida de todos os voos no estado paulista atualmente.
Às 11h05, Juliana encontrou no despacho operacional o comandante Martinez, que também saiu de sua casa, na cidade de São Carlos, onde mora com a mulher e a filha, de 6 anos, um dia antes.
Gol fez alterações em procedimentos
Para evitar aglomerações e diminuir a exposição da equipe, a Gol fez alterações em suas recomendações para o trabalho. A preparação da tripulação para a viagem — que, antes da pandemia, costumava acontecer numa sala — passou a ser feita já no portão reservado para cada voo.
— Recebo a documentação do voo e converso com a tripulação sobre a duração e as condições da aeronave e meteorológicas — relata o comandante, de 38 anos: — A Gol tem procurado reduzir o contato entre as pessoas.
Essa foi uma das mudanças na rotina de Martinez, que também viu sua carga de trabalho diminuir. De até cinco voos por dia, ele faz agora, no mesmo período, apenas dois, de bate e volta, ou seja, retornando para sua base…