Os recentes pedidos bilionários de jatos regionais fechados pela Embraer nos Estados Unidos significam que a receita da empresa brasileira voltará a estar mais concentrada em clientes norte-americanos. Mas isso agora não deve ser um problema.
Terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais, a Embraer fez um grande esforço nos últimos anos para diversificar a sua base de clientes, buscando compradores para seus aviões de até 120 passageiros em países como Jordânia, Austrália e Cingapura.
Também se posicionou no mercado brasileiro, antes um duopólio das gigantes Boeing e Airbus, ao fornecer jatos para companhias aéreas nacionais de menor porte.
A diversificação da base de clientes da Embraer foi importante na última recessão dos EUA, na esteira da crise financeira global de 2008. Num cenário de consumidores avessos a viagens e um setor aéreo buscando consolidação e redução de custos, a Embraer viu clientes naquele país revendo planos de frota e até pedindo concordata.
Além disso, a forte presença da Embraer nos EUA, no fim dos anos 1990 e começo da década passada, com jatos regionais de 50 assentos, era impulsionada por uma «demanda artificial», segundo executivos da indústria, já que os sindicatos de pilotos dos EUA limitavam o tamanho das aeronaves para voos regionais.
Mas esse quadro mudou. Os sindicatos aliviaram as chamadas «scope clauses» e permitiram a operação de jatos regionais maiores de cerca de 70 assentos –mais modernos e condizentes com a demanda. Também houve alteração no setor aéreo norte-americano, que agora tem menos e mais fortes companhias.
CONCENTRA, MAS NÃO TANTO
Apenas neste ano, as norte-americanas Republic Airways, United Airlines e SkyWest fizeram pedidos firmes por 117 aviões modelo Embraer 175 (de 76 lugares), com valor de 4,8 bilhões de dólares a preços de tabela.
O mais recente acordo com a SkyWest pode chegar a 200 jatos, considerando 60 encomendas que ainda precisam ser confirmadas e outras 100 opções de compra.
Para analistas do Bank of America Merrill Lynch, ainda há potencial para outro grande pedido a ser feito por uma empresa aérea norte-americana no curto prazo, possivelmente por uma subsidiária da AMR.
Segundo cálculos da Reuters, a Embraer chegou a ter, em 2003, quase 80 por cento de sua carteira de pedidos («backlog») na aviação comercial, em número de aeronaves, com clientes dos EUA. No fechamento de 2010, apenas 30 por cento estava com empresas aéreas norte-americanas.
A inclusão das duas últimas encomendas ao «backlog» deve deixar mais de 50 por cento da carteira de pedidos da Embraer na aviação comercial concentrada nos EUA.
RECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA
Após ter visto em parte de 2012 o valor de sua carteira total de pedidos no menor nível em seis anos, a Embraer foi alvo de questionamentos sobre a habilidade de manter os nÃveis de produção e entregas na aviação comercial. Os temores foram dissipados com os novos contratos.
Para o BofA Merrill Lynch, o «backlog» da Embraer –que inclui os negócios na aviação comercial, executiva e defesa– pode subir para 16,1 bilhões de dólares no segundo trimestre com as novas encomendas, ante 13,1 bilhões de dólares em março. Se confirmado, seria o maior valor desde os 16,6 bilhões de dólares do quarto trimestre de 2009.
No fim de abril, o presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado, afirmou que o nível de produção em 2013 e 2014 na linha de produção de aviões comerciais está assegurado. Com pedidos adicionais, há chance de subir de 10 a 15 por cento no ano que vem, voltando ao patamar de 2011 e 2012.
Os analistas do BTG Pactual esperam crescimento do «backlog» da Embraer na aviação comercial em 2013 e 2014, ou seja, que a fabricante terá mais encomendas do que entregas de jatos, por pequenos pedidos de companhias aéreas em economias emergentes e potencialmente outras grandes compras por norte-americanas.
As ações da Embraer fecharam nesta terça-feira em alta de 2,06 por cento na Bovespa, para fechar no maior patamar desde 23 de outubro de 2007, a 19,29 reais. Na máxima desta terça-feira, os papéis chegaram a avançar quase 5 por cento.
Para analistas, a Paris Air Show pode ser um novo catalisador para as ações da Embraer. A empresa deve apresentar sua próxima geração de jatos regionais na maior feira de aviação do mundo, que acontece em junho.