BRASIL EM PORTUGUES

‘Brasil tem elementos que não favorecem o modelo Ultra Low Cost’, diz CEO da JetSMART

Uma das companhias aéreas Ultra Low Cost (ou ultra baixo custo) de maior crescimento na América Latina, a chilena JetSMART atende seis cidades brasileiras por meio de 10 das as 80 rotas da sua malha. A operação inclui voos internacionais em 8 países, e voos domésticos na Argentina, no Chile, no Peru e, desde o mês passado, também na Colômbia.

O mercado doméstico brasileiro, o 4º maior do mundo, está obviamente no radar — mas se, ou quando, é uma interrogação. — O Brasil ainda tem muitos elementos que não favorecem o modelo Ultra Low Cost — diz o CEO da JetSMART, Estuardo Ortiz, em conversa com a coluna em Santiago do Chile. — A gente vê muito potencial de investimento, mas ainda não no mercado doméstico —.

A JetSmart foi fundada em 2017 e pertence ao fundo de private equity Indigo Partners, que também controla a Frontier Airlines, além de deter participações na mexicana Volaris e na europeua Wizz Air. A empresa é a terceira companhia aérea do Chile, país com 20 milhões de habitantes — menos de um décimo da população brasileira — mas que tem uma taxa de voos por habitante de 0,93%, praticamente o dobro da brasileira.

Vocês acabaram de estrear no mercado doméstico da Colômbia. O próximo mercado doméstico será o brasileiro?

O máximo que posso dizer é que o Brasil tem muito potencial. A gente tem 35 aviões. Vai receber o 36º semana que vem. E temos 90 para receber até 2028. É um plano bastante ambicioso e tenho certeza que o Brasil vai participar dele. Porém, há questões de mercado que são importantes. Uma delas, que espero que fique no passado, é a regulação das bagagens. Temos rotas em que 40% a 60% dos passageiros não levam bagagem. Se a regulação me obriga a dar franquia de bagagem, eu vou ter que cobrar por isso no preço da passagem. E muitos passageiros que não levam bagagem, vão pagar. Toda tarifa que inclui alguma coisa é sempre mais cara do que uma tarifa que não inclui nada.

Seria preciso adaptar o modelo para voar no Brasil?

Esse tipo de regulação deixa a passagem mais cara para os brasileiros. Eu tenho ouvido que o governo está se esforçando para levar passagens baratas para os consumidores. Qualquer regulação que coloque exigências de serviço vai representar tarifas mais caras. Isso independentemente do preço do combustível. O modelo ULC é sobre liberdade para o passageiro escolher. A gente não inclui nada na tarifa. A nossa tarifa Smart é o preço mínimo para te transportar do ponto A ao ponto B. Essa é a tarifa mais baixa possível. Deixamos o cliente decidir o que ele quer.

O Brasil não está maduro para esse modelo de negócios?

Houve um avanço na regulação de bagagem. Fico feliz de saber que hoje é possível deixar a bagagem despachada fora da tarifa. E precisamos reconhecer e parabenizar o Brasil por ter avançado em termos de regulação do setor nos últimos anos. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fez um grande trabalho para melhorar o historicamente burocrático processo de abertura de operações. E hoje o Brasil tem a menor tarifa aeroportuária de toda a região. Essa é uma das principais razões de a gente ter ampliado a capacidade de voos internacionais para o Brasil. Temos hoje 10 rotas em 6 cidades. E a tarifa é importante na nossa decisão de expansão. Estamos trabalhando intensamente para que outros países sigam o exemplo do Brasil.

E o que impede a Jet SMART de voar doméstico?

A questão do custo das ações judiciais de consumidores é algo que a gente olha de forma muito atenta. E não apenas pelo custo, que é muito alto, mas porque traz muita incerteza para o negócio. Não é previsível. Então o Brasil tem alguns elementos que não favorecem, que não são “Ultra Low Cost friendly”. Por isso, neste momento, vamos seguir a linha de aumentar capacidade internacional, e com isso construir uma marca forte. E seguir trabalhando com as autoridades para tentar solucionar essa questão.

As ULC falam muito de judicialização, mas a realidade é que o Brasil tem três companhias grandes, com uma centena de aviões, e que não vão deixar o mercado ser desafiado com facilidade.

É verdade que as três são companhias de alta qualidade. Mas também temos que admitir que tem um mercado muito grande no Brasil e a penetração da aviação é muito baixa, mesmo comparando com outros países da AL. Então acreditamos que há espaço para estimular o crescimento do mercado. Minha visão não é roubar o passageiro das concorrentes, mas fazer a população voar mais…

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