BRASIL EM PORTUGUES

Para Flybondi, ambiente atual dificulta operação de aérea low cost no país

Antigamente, empresas aéreas brasileiras poderiam ter até um limite de 20% do capital estrangeiro. Desde 2019, com a alegação de permitir a entrada de novas companhias e aumentar a concorrência, esse valor passou para 100%.

Com isso, qualquer grupo estrangeiro poderia abrir uma aérea no país e operar voos domésticos e internacionais sem restrições. Entretanto, o que se viu desde então foi uma série de crises no setor e nenhuma nova companhia, nem ao menos as low costs, como era esperado, estão vindo para o Brasil.

Uma delas, a low cost argentina Flybondi, chegou a anunciar que tinha intenções de começar a operar voos domésticos no Brasil, mas desistiu em seguida. Em entrevista exclusiva ao UOL, o CEO da empresa, Mauricio Sana, fala sobre as dificuldades para o Brasil ter uma aérea de baixo custo e como a empresa mudou o mercado aéreo da Argentina.

Brasil não tem ambiente favorável
UOL: Por que o Brasil ainda não tem uma low cost nacional? O que o Brasil precisa fazer para ter uma low cost?
Mauricio Sana: A principal razão é que não se vê claramente um ambiente regulatório e comercial favorável para uma operação low cost. O Brasil tem um potencial de mercado muito grande para se desenvolver, muitas pessoas não viajam de avião. Porém, hoje, a visão dos reguladores, das operadoras e do próprio corpo legislativo não está alinhada nesse caminho de permitir que mais brasileiros viajem pelo Brasil. Acredito que precisamos trabalhar nessa visão compartilhada entre organizações públicas e privadas para desenvolver o mercado de passageiros, como estamos fazendo na Argentina.
Há seis anos, quando começamos a voar, o modelo low cost era totalmente desconhecido na Argentina, até mesmo na região. Colocamos na agenda, promovemos e hoje podemos dizer que democratizamos o acesso ao avião no país.

UOL: As empresas low cost aumentam o número de passageiros que viajam ou retiram clientes de empresas tradicionais, chamadas de legacy? Existe um ponto de equilíbrio?
Mauricio Sana: A maior parte dos mercados da América do Sul são subdesenvolvidos. No caso do Brasil, podemos afirmar que menos de 28% de seus habitantes fazem um voo de ida e volta por ano, o que mostra que existe um potencial de 151 milhões de pessoas que precisam de melhores oportunidades para voar. Não tiramos passageiros das companhias aéreas legacy, pelo contrário. Geramos crescimento de mercado e novos segmentos de viajantes. Nosso grande orgulho é que 20% dos nossos passageiros voam pela primeira vez na vida.

UOL: Como as companhias aéreas podem oferecer preços verdadeiramente baixos sem comprometer a segurança e a qualidade do serviço?
Mauricio Sana: Segurança e qualidade não são negociáveis. Cumprimos todos os procedimentos, normas e regulamentos de segurança local e internacional. Nosso modelo se baseia na eficiência de todos os processos das companhias aéreas comerciais para garantir o maior número de passageiros em cada voo. Desde a nossa chegada, mostramos que a eficiência é possível e lucrativa. Um foco rigoroso na gestão de recursos aliado a operações ágeis nos permitiu oferecer tarifas competitivas e acessíveis sem sacrificar a qualidade do serviço. Isso pode ser visto nos números do mercado argentino…

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