Imagine que você acordasse toda manhã com o corpo conectado a um teclado, monitor, receptor de wi-fi, um computador, uma máquina fotográfica e um aparelho de som e se aventurasse de forma desajeitada porta afora.
Se você tem um smartphone, já faz isso, claro. Hoje, esse pequeno objeto tem praticamente o mesmo poder de computação que poderosos computadores tinham em 2005.
Vemos esses equipamentos portáteis como dispositivos de jogos, navegadores de internet e ferramentas de mensagens. Mas no fundo eles são como todos os computadores existentes antes deles. São máquinas eficientes, que ajudam a economizar tempo, reduzir distâncias e cortar custos.
No entanto, há algo bizarro acontecendo. Apesar das estimativas apontarem para 130 milhões de smartphones vagando pelas ruas dos Estados Unidos, os especialistas não conseguem detectar os efeitos que eles têm na economia.
Isso significa que eles não conseguem verificar como esses dispositivos móveis estão melhorando a produtividade dos trabalhadores, o que os computadores têm feito impiedosamente nos últimos 70 anos. A produtividade é o motivo da elevação dos padrões de vida. É por isso que temos hoje mais produtos e serviços do que nossos avôs pudessem sequer imaginar.
Os números oficiais de produtividade dos EUA são baixos quando comparados ao impressionante ganho anual de 3% da primeira era da internet, aproximadamente entre 1995 e 2004. De fato, o crescimento da produtividade anual desde 2004 tem sido em torno de 1,5%, abaixo até mesmo da média de longo prazo, de 2,25%.
Pela definição clássica, um aumento na produtividade reduz a quantidade de mão de obra necessária, aumenta a produção da existente ou ambos. E por essa medida, argumenta o economista Robert J. Gordon, da universidade Northwestern, do Estado americano do Illinois, o iPhone «não fez absolutamente nada» para melhorar a produtividade.
Há então algo errado com os números do governo? Ou, ainda mais intrigante, nós estamos superestimando como esses pequenos aparelhos podem afetar os padrões de vida?
As respostas são vagas e inconclusivas. Por ora, ficamos no campo falível das impressões. A questão importante aqui parece ser: podemos encontrar um aspecto das nossas vidas ou das empresas que não está sendo afetado por esses dispositivos?
Entremos no cockpit de um pequeno jato que tenha acabado de pousar na pista nos arredores de uma grande cidade americana. Há um ano, esse avião teria sido abastecido lá, independentemente do custo. Os preços do combustível, fornecidos por vários intermediários, eram nebulosos e confusos.
Hoje, seus pilotos provavelmente usariam um pequeno aplicativo móvel chamado FuelerLinx. Ele coleta e analisa o custo do querosene de aviação nos aeroportos mundo afora, indicando o melhor preço.
Em 2008, o fundador do FuelerLinx, Kevin Moller, começou a coletar preços em 1.800 lugares por telefone e fax, incluindo manualmente os valores em uma planilha Excel nas manhãs de quarta-feira. Atualmente, o banco de dados é amplamente automatizado e os pilotos podem acessá-lo das suas cabines por meios de um smartphone.
«Há cinco anos, os processadores, a velocidade da internet e as ferramentas não estavam disponÃveis. Agora tudo isso se uniu», diz Moller. «As pessoas podem otimizar o seu dia.»
No cenário do comércio global, essa é uma pequena mudança para um pequeno mercado. Mas ela está ocorrendo na indústria em geral, uma união criativa de robustos computadores portáteis, internet sem fio mais rápida e processamento e armazenamento de dados em nuvem. O autor Nicco Mele chama isso de «conectividade radical». É o poder desse motor computacional, finalmente móvel e onipresente.
É a diferença entre uma peça de artilharia e um tanque.
«Se analisarmos praticamente qualquer dimensão da atividade humana, ela acabará sendo tocada por essa capacidade de aproveitar o poder computacional», diz Dan Sichel, professor da universidade Wellesley College, no Estado de Massachusetts, que argumenta que os números oficiais de produtividade subestimam o impacto da tecnologia.
Isso está acontecendo no eBay Inc., EBAY +0.67% diz o diretor-presidente da empresa de leilões on-line John Donohoe, onde os usuários estão colocando à venda três milhões de itens semanalmente através de dispositivos móveis. «Eles tiram fotos e disponibilizam o produto para leilão em dois minutos», disse Donahoe ao The Wall Street Journal. «Eles são muito mais produtivos.»
Para um exemplo ainda melhor, considere os serviços de táxi. Eles estão usando aplicativos móveis para ajudar motoristas e passageiros a localizarem uns aos outros rapidamente. A economia de tempo e combustível, assim como a redução de problemas, é evidente. Travis Kalanick, diretor-presidente do serviço Uber, diz que os motoristas de táxi nos EUA que usam seu sistema ganham US$ 10.000 a mais por ano do que os que não o usam. Mais uma vez, mais produção por menos.
Para os analistas que tentam calcular os efeitos econômicos da tecnologia, a parte mais difícil é identificar todos esses pequenos avanços na economia afora, especialmente na área de serviços. Sichel considera as atuais taxas de produtividade simplesmente uma pausa.
Há outra razão para isso. Com frequência a tecnologia muda mais rápido do que as pessoas. E a disseminação do seu espólio nem sempre ocorre de forma ampla. Um motivo para os lucros corporativos continuarem altos e o emprego global permanecer em baixa é que a tecnologia, não as pessoas, está fazendo a maior parte do trabalho.
O investidor de capital de risco Marc Andreessen chega a descrever o futuro como um mundo de duas classes: a dos que programam as máquinas e a dos que são programados por elas.
No geral, estamos agora nos voltando para um mundo em que o teórico J.C.R. Licklider previu em 1960: «Não levará muitos anos, os cérebros humanos e as máquinas de computação vão estar firmemente unidos», escreveu ele, e «a parceria resultante vai pensar como um cérebro humano jamais pensou e processar dados de uma forma nunca abordada pelas máquinas que processam informação hoje».