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Queda no turismo terá impacto prolongado na economia

O golpe do coronavírus no setor mundial de viagens e turismo terá impacto prolongado no crescimento global, em razão da dificuldade de reposicionar as economias locais que vem sendo encontrada por regiões cuja renda depende muito dos turistas, alertam economistas.

A contribuição do turismo para a economia mundial cresceu nos últimos dez anos, uma vez que a expansão da classe média nas economias emergentes, em particular na Ásia, vinha se traduzindo em aumentos nos gastos em atividades de lazer, incluindo viagens. Outro fator vinha sendo o crescimento das viagens de baixo custo, que estimulou números do setor.

O turismo representou um em cada quatro novos empregos criados no mundo nos últimos cinco anos e cerca de 10% da produção econômica, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês).

O turismo já era há muito tempo um grande propulsor para algumas economias avançadas, como Grécia, Itália e Espanha, mas nos últimos anos também havia se tornado fonte particularmente importante de crescimento para economias em desenvolvimento.

Em algumas partes do mundo, como o Sul da Ásia, a Europa Meridional e a América Central, o turismo contribui para até 30% da economia.

Como se prevê que o turismo internacional terá o pior desempenho desde os anos 50, tanto em número de viajantes quanto em volume de dinheiro gasto, essa fonte de crescimento agora se tornou uma vulnerabilidade.

Em termos mundiais, o número de visitantes estrangeiros caiu 57% em março em comparação ao mesmo mês de 2019, segundo a Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (UNWTO), o que representa 67 milhões de turistas a menos. Em abril, a demanda de passageiros caiu 94% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata).

As previsões econômicas para países dependentes do turismo têm sido revistas acentuadamente para baixo neste ano e, a esta altura, estima-se que percam até 10 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) em comparação aos patamares pré-pandemia.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para o que deverá ser a pior recessão em mais de meio século em regiões que dependem do turismo, como o Caribe.

Enquanto a maior parte dos países encontra dificuldade para ajudar seus abalados setores de turismo, alguns começam a encontrar possíveis soluções, a começar pelo turismo doméstico.

A cidade litorânea de Sanya, na ilha turística de Hainan, na China, tem buscado esse caminho. As taxas de ocupação de hotéis em Sanya vêm subindo mais rapidamente do que outras áreas turísticas chinesas, segundo dados da STR, empresa de análise do setor de hotéis.

“A suspensão dos voos internacionais torna Sanya uma das melhores opções para os chineses que frequentam praias”, disse Susan Zhang, que trabalha no Ritz-Carlton Sanya.

Embora as reservas ainda estejam abaixo dos níveis normais e o hotel ofereça descontos promocionais para atrair turistas, a ocupação “no mínimo dobrou” desde o piso observado em fevereiro, quando as suspensões de atividades relacionadas à pandemia estavam em seu auge, disse.

“A China começou a ver uma recuperação à medida que as medidas de confinamento foram sendo levantadas, e os hotéis foram reabrindo pelo pais”, disse Thomas Emanuel, diretor da STR. “Isso está sendo puxado pela demanda doméstica, predominantemente por viagens a lazer.”

Outros países, como o México, também tentam impulsionar o turismo doméstico para substituir os visitantes internacionais que perderam.

Há sinais de que isso começa a funcionar. Mundialmente, as visitas a sites de hotéis e outros serviços de hospedagem subiram 11% na última semana de maio, em comparação à semana anterior, segundo a SimilarWeb, empresa que acompanha visitantes únicos em sites na internet. Por sua vez, visitas a sites de empresas aéreas aumentaram apenas 1%. O número de voos domésticos no mundo cresceu mais que o de voos internacionais em maio, de acordo com a Iata.

“Em razão do número de restrições a viagens internacionais ainda em vigor, uma viagem doméstica será vista como opção mais conveniente”, disse David Goodger, economista da consultoria Oxford Economics. “Tanto nos EUA quanto em [alguns] destinos na Ásia, se usufrui mais de viagens domésticas do que internacionais, de forma que eles estarão mais bem posicionados para recuperar-se do que destinos na Europa, onde as viagens internacionais representam a maior proporção.”

O próximo passo na recuperação é o turismo internacional regional, o qual a Ásia também começou a buscar. Vários países negociam a criação de corredores pelos quais visitantes teriam permissão para viajar sem precisar ficar em quarentena ao chegar.

Na Europa, também há esperanças de um renascimento do turismo doméstico e, além disso, a União Europeia empenha-se na retomada de viagens regionais entre países do bloco, que representam cerca de 85% do total na Europa.

“Estamos começando a ver algumas reservas, mas a recuperação é lenta e não há visitantes estrangeiros”, disse Marina Lalli, presidente da associação nacional de viagens e turismo da Itália. “Neste verão, o turismo na Itália será principalmente local. Não esperamos que a chegada de turistas internacionais volte aos níveis de 2019 até 2023”…

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