Era para ser um retorno tranquilo ao Brasil, após um domingo de sol em Buenos Aires (Argentina). Mas o voo PZ 705, operado pela brasileira TAM, acabou virando novela com aproximadamente 18 horas de espera, extravio de bagagens, informações desencontradas e muito tumulto.
Tudo começou com o cancelamento do voo, programado para deixar Ezeiza às 21:55h do último domingo (23) rumo a Guarulhos (SP). A TAM realizava o check-in normalmente, mas alertava os passageiros a não passarem pela imigração, pois havia incerteza de que o voo decolaria naquela noite, por causa do mau tempo em Assunção (Paraguai), de onde viria a aeronave.
E foi o que aconteceu. Após longa espera na entrada do terminal de embarque, a empresa anunciou o cancelamento do voo PZ 705 por volta de 21:15h, por falta de condições meteorológicas na capital paraguaia. A demora do comunicado causou desordem. Passageiros se aglomeraram em frente aos guichês da companhia em busca de informações sobre o voo e como proceder.
Sem perspectiva de embarcar, o grupo revoltou-se com a falta de dados sobre o voo e, sobretudo, com a lentidão do "time" de funcionários da TAM. A equipe demorou cerca de 2 horas até definir que a empresa arcaria com hotel e translados de ida e volta ao aeroporto. Havia idosos e mulheres com crianças de colo.
Procon-SP condena desinformação
A partir do cancelamento, houve desencontro de informações. Parte dos passageiros foi realocada "” de forma desordenada "” em voos de Gol e LAN. E a maioria foi remanejada para o vôo PZ 721, previsto para sair às 07:50h de segunda (24).
A TAM então providenciou transfer e hospedagem em um hotel próximo ao aeroporto de Ezeiza. Mas a demora em anunciar e concluir a solução deixou muitos passageiros impacientes, e um clima de tensão se instalou no setor de check-in. A diretora de atendimento do Procon-SP, Selma do Amaral, esclarece:
"” Atrasos e cancelamentos são corriqueiros, mas é dever da empresa informar. Creio que, neste caso, as pessoas já estavam desgastadas e qualquer coisa poderia fazê-las reclamar.
A falta de informação se estendeu às bagagens. Quase todos os passageiros despacharam suas malas no check-in. E na hora do tumulto, muitos as exigiram de volta, mas a TAM alegou que polícia federal argentina não autorizou a devolução.
O advogado Rafael Dias Rosa, um dos passageiros do vôo PZ 705, lamentou a perda de bagagens:
"” Perderam a bagagem da minha mulher e de outras pessoas que estavam no voo. É inaceitável uma situação dessas acontecer com uma empresa do porte da TAM.
TAM não liberou consumo de água nos quartos
Para a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), em primeira instância a TAM cumpriu com suas obrigações legais ao fornecer hotel e jantar aos passageiros do voo PZ 705. Contudo, a companhia sequer liberou o consumo de água nos quartos. Em comunicado, agênncia reguladora esquivou-se:
"” Como o ocorrido aconteceu em solo estrangeiro, as regras aplicadas para assistência são as expedidas pela autoridade de aviação civil local "“ a Anac argentina. Mesmo a companhia sendo brasileira, vão valer as regras do país no qual aconteceu a ocorrência.
Para a diretora do Procon-SP, a informação da Anac é contestável, já que muitos dos passageiros que estavam no vôo PZ 705 compraram suas passagens em território brasileiro. A especialista reforça:
"” Neste caso valem as regras vigentes no Brasil.
Falta de tripulação foi "cereja do bolo"
Passados os transtornos do domingo, os passageiros acordaram esperançosos em voltar ao Brasil na manhã da segunda (24). Mas para a surpresa de muitos, desta vez não foi o mau tempo que atrapalhou. O "vilão" foi a falta de tripulação da TAM.
A previsão de saída de Ezeiza era às 07:50h, mas às 06:45h veio a confirmação de novo atraso "“ o Aeroporto de Assunção seguia fechado. Em seguida, a previsão passou às 09:00h. Uma nova aglomeração de passageiros se formou em frente ao portão de nº1 do setor de embarque. E mais uma vez, a demora dos funcionários da TAM em transmitir informações acabou "incendiando" o ambiente.
A essa altura, a maioria dos passageiros estava em jejum "“ a TAM não forneceu vouchers para café da manhã. E os ânimos chegaram ao limite quando veio a notícia de que a aeronave havia pousado, mas não poderia voar por falta de tripulação. Sem comissários de bordo, o avião não decolaria.
E o vôo PZ 721 acabou remarcado para 15:30h. Neste momento, houve início de bate-boca. Alguns passageiros dormiam nas cadeiras e alguns se deitaram no chão do aeroporto. A TAM providenciou cartões telefônicos no valor de 10 pesos argentinos, o suficiente para falar por 10 minutos com números fixos no Brasil. Mas o clima entre os passageiros continuou tenso.
"” Pelo relato, houve despreparo. A companhia aérea não instruiu e poderia ter minimizado os transtorno", pontua Selma do Amaral, do Procon-SP.
VÃtima, Rafael Dias Rosa recorda:
"” Foi uma bagunça muito grande, as informações eram controversas, a cada momento nos passavam um novo horário. Foi revoltante.
O advogado contou ao R7 que entrará com duas ações coletivas contra a TAM, uma para as bagagens perdidas, outra pedindo danos morais e materiais. "Muita gente perdeu compromissos pessoais e profissionais e sofreu transtorno", completou.