A Copa do Mundo bate à porta e os resquÃcios dos protestos que ocorreram no ano passado parecem não preocupar o secretário extraordinário da Copa, Ney Campello.
Diante do emaranhado de ações, o chefe da Secopa, em entrevista à Tribuna, acha que não há uma oposição ao evento mundial, mas uma contraposição ao chamado "padrão Fifa" com relação aos outros setores mundiais.
Otimista, Campello acredita que o estado colherá, não só a curto prazo, mas no futuro. Questionado sobre a próxima eleição, ele reconheceu o desconhecimento de Rui Costa, mas disse acreditar que até a reta final o quadro poderá ser revertido.
Tibuna da Bahia – Vai começar a Copa. Qual a expectativa do governo?
Ney Campello – Já começou a Copa. Há quatro anos e meio, quando nós criamos a secretaria, nós já tínhamos os nossos objetivos e metas e com propósito de fazer a entrega daquilo que se celebrou com contrato com a Fifa, nesta condição de provedor (estádio, aeroporto, metrô e etc). Mas também com a ideia de aproveitarmos esse leque de oportunidades econômicas e sociais para extrair dividendos, que depois da Copa do Mundo possam ficar para sociedade brasileira e baiana. Acho que o Estado se planejou de forma vigorosa e com apoio de organização de auditoria internacional, sem ser algo improvisado. Tivemos a autonomia, a linha orçamentária dada pelo governo à secretaria que foi muito importante. Nós somos uma "˜secretaria"™ normal, como qualquer outra, mas não somos uma secretaria, só nascemos como ela, e isso ajuda no processo de articulação entre seus pares para condução dos trabalhos. Acho que passamos por dois eventos-teste que representaram uma curva de aprendizado. Foram a Copa das Confederações e o Sorteio Final. No primeiro certame fomos eleitos pelo portal UOL como a melhor operação, melhor nota dos seis estádios e a todos os serviços: mobilidade, saúde, serviço ao espectador, segurança e etc. O segundo ponto foi o sorteio, em SauÃpe.
Tribuna – Salvador estará preparada para o Mundial ou corre o risco de se expor de forma negativa?
Ney Campello – Eu tenho absoluta convicção que tudo foi feito para que essa hipótese que você elencou não se confirme. É óbvio que um evento de 30 dias, com movimentação de turistas, pois temos mais de 50% dos ingressos vendidos para fora e teremos algo de cerca de 150 mil estrangeiros, naturalmente, pode ocorrer algo fora do planejado. É preciso contar com o imprevisto e com algo que precise ser corrigido. Mas as ações e iniciativas tomadas são para cercar todas as possibilidades de desacertos para que os êxitos sejam muito maiores e, portanto, a exposição da nossa cidade e do nosso estado seja uma exposição muito positiva.
Tribuna – Há muita crÃtica em relação aos legados que o Mundial vai deixar para os baianos. O que vai ficar além do estádio?
Ney Campello – Esse se tornou um tema controverso, principalmente após as manifestações do ano passado. A partir dali, na verdade, se fez uma vinculação entre uma insatisfação, que é real e verdadeira, com relação a alguns serviços públicos essenciais, como educação, saúde e segurança. Fez-se essa vinculação à Copa do Mundo. Isso, não como oposição. A sociedade não faz oposição à Copa, ela fez uma contraposição. O que a sociedade disse, por isso usou o padrão Fifa: ‘ora, está se fazendo um evento aqui no Brasil de padrão elevado e nós queremos que isso também aconteça nos outros setores sociais’. É uma contraposição. O brasileiro é apaixonado por futebol e quer que tudo dê certo. A partir dessa controvérsia, há uma exploração, ou participação de alguns setores da grande mídia, que, no meu entendimento, tem outros propósitos que não a manutenção da estabilidade política do país, há uma boataria muito forte, impregnada de uma ideia que o Mundial não deu certo e não dará certo. Chegou ao absurdo de dizer que não vai ter Copa. Um evento em que existem 10 milhões de pessoas no mundo disputando ingresso e vai se dizer que não vai ter Copa? Há legados sim, tanto físicos, materiais, quantos legados imateriais…
Tribuna – Quais são eles?
Ney Campello – A Arena Fonte Nova, importante legado para revitalização do Centro Histórico, para geração de trabalho e renda e valorização imobiliária, inserção de Salvador no circuito internacional de shows, nós não tínhamos um único equipamento para receber um show com 40, 50 mil pessoas, agora temos, mas além dele temos: o aeroporto; o porto; a infraestrutura hoteleira com 14 projetos de novos hotéis ou requalificação e modernizações de hotéis; geramos 50 mil oportunidades de qualificação profissional, associada ao ensino de idiomas. Para mim, o maior legado da Copa, que só o taxista e a baiana do acarajé sabem que isso representa para o patrimônio deles para ter a comunicação básica com o estrangeiro e vender seu produto. Segundo dados do Sebrae, um milhão de micro e pequenos empresários foram impactados, na cadeia complexa dos negócios da Copa, pois vai desde os empreiteiros lá no pico da obra, com 10 mil empregos, ao pequeno vendedor. O gasto médio de um turista, no mês de junho, é em torno de R$1 mil quando ele vem para cá no São João. Na Copa das Confederações foi três vezes esse valor e o gasto médio projetado para Copa foi de R$6 mil. A ocupação hoteleira, como citamos os projetos desenvolvidos, durante a Copa das Confederações atingiu quase que 100% das ocupações. São exemplos de legados que ficam. Mas é importante dizer que…