Associação conta com uma equipe no Brasil que busca soluções para os gargalos que impedem o desenvolvimento do setor
Quando se fala em Iata, logo lembramos da venda de bilhetes aéreos internacionais e do sistema BSP. No entanto, pouca gente sabe que a International Air Transport Association "“ ou Associação Internacional do Transporte Aéreo (em uma tradução livre) tem muito mais atribuições e se envolve diretamente nas questões do setor com o objetivo de contribuir com a eficiência e com o desenvolvimento da aviação comercial no mundo todo. No Brasil isso não é diferente e a equipe comandada por Dany Oliveira lidera uma série de iniciativas para colocar a aviação brasileira no mesmo patamar de grandes potências do setor.
A associação tem como atribuição representar e liderar a indústria de aviação e promover ações que gerem valor para a cadeia como um todo. E quais são estas ações? Na verdade são muitas, mas algumas são de maior interesse ao mercado, como por exemplo ajudar na otimização das operações e com questões que envolvem negociações e pleitos com os governos. "Nosso objetivo é melhorar a indústria, gerando valor e inovações para contribuir com a lucratividade das companhias aérea", explicou o country manager da Iata no Brasil, Dany Oliveira.
O trabalho no Brasil é gigantesco. Embora, nos últimos 15 anos o setor tenha passado por um processo de desregulamentação, o país ainda oferece um ambiente extremamente engessado, se comparado aos maiores mercados da aviação mundial. Para se ter uma ideia, enquanto lucro por passageiro deve chegar a US$ 3 em 2018 para as companhias da América do Sul, a projeção para a América do Norte é de US$ 16,67, segundo dados da própria Iata.
"O lucro líquido por passageiro varia muito conforme a região e isso mostra que nos lugares onde as companhias aéreas operam sem tantas interferências de regulamentação, os resultados são melhores para a indústria como um todo", concluiu Oliveira. O executivo lembrou que um dos grandes vilões para as companhias nacionais é o combustível de aviação. Enquanto no mundo todo, ele representa cerca de 27% dos custos totais, no Brasil ele é de 35%. "Há um ano, ele representava 40%. Esta diferença é um grande dificultador para a internacionalização das empresas brasileiras. Isso porque a competição é bem mais agressiva e as aéreas nacionais já inicial em desvantagem devido a alta carga tributária do paÃ", complementou.
DESREGULAMENTAÇÃO
Segundo ele, o principal fator que contribui para este resultado na América Latina é justamente uma regulamentação mais defasada. Além do combustível, ele citou as altas taxas de muitos países da região. Isso sem contar que aproximadamente 60% das despesas são em dólar e as receitas são em reais, o que deixa as empresas muito expostas à volatilidade do câmbio. "Outros países conseguem oferecer passagens mais baratas porque a estrutura de custos das companhias é menor", afirmou.
Mais do que qualquer outro setor, a aviação atua melhor em ambientes desregulamentados. Uma pesquisa da PriceWaterhouseCoopers com CEOs do mundo todo mostrou que apenas 38% consideravam um ambiente altamente regulado como uma ameaça ao negócio que comandava. Se considerados apenas os CEOs de companhias aéreas, este percentual salta para 58%. "Medidas de desproporcionais de proteção ao consumidor, acabam atrapalhando o crescimento do setor. O excesso de regulação, taxas e impostos atrapalha o mercado brasileiro", acredita.
O próprio Brasil é um exemplo de como a desregulamentação é benéfica para o setor. Em 2003 foram transportados pouco mais de 37 milhões de passageiros em rotas domésticas e internacionais. Desde então o número não parou de crescer, beirando os 100 milhões em 2017. Ao mesmo tempo, o preço médio das passagens também caiu de forma vertiginosa. Isso é resultado da liberdade tarifária, conquistada pelo setor em 2002, que permitiu este aumento de demanda. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), os ganhos de produtividade obtidos foram repassados aos passageiros sob a forma de tarifas mais baixas.
"O mundo ainda vê a América Latina um mercado volátil. Há a variação do dólar, que pode prejudicar o plano de crescimento de uma empresa, além das altas taxas de imposto", disse. "O mercado vê a aviação como extremamente regulada na região e, quanto mais regulada, mais difícil crescer e expandir", ressaltou.
VETOR DE DESENVOLVIMENTO
Danny Oliveira ressaltou que a aviação é uma indústria que catalisa o desenvolvimento, ainda mais em um país de dimensões continentais como o Brasil. Além de facilitar negócios, transportar cargas e órgãos, por exemplo. De acordo com a própria Iata, o setor é responsável por 1,4% do PIB do país. A geração de empregos também impressiona: são 270 mil diretos, além de 400 mil indiretos, 190 mil gerados por conta dos gastos dos funcionários e mais 280 mil com o Turismo.
"Temos um potencial grande para elevar o Brasil a potência do setor aéreo. Trazendo as melhores práticas lá de fora, podemos aumentar isso. Nossa agenda, especialmente com o governo é divida em três tópicos. Alinhar com as melhores práticas internacionais, padronização e, sobretudo olhar esta questão dos direitos e proteção do consumidor, pois existe um certo exagero no Brasil", disse.
Na opinião de Oliveira, não apenas a desregulamentação é um gargalo para um desenvolvimento mais rápido do setor, mas também a implantação de boas práticas. "Em algumas áreas bem avançados e em outras não, mas o mais importante é que estamos avançando. A liberdade tarifaria em 2002 é um grande avanço. A quantidade de passageiros aumentou mais de três vezes e no longo prazo o preço médio caiu, mas pode cair muito mais a medida que vamos tirando as amarras. O governo está atento e entende o papel indutor do setor aéreo. Mudar não é simples, mas identificamos uma boa vontade", concluiu.
INFRAESTRUTURA E SEGURANÇA
A questão da infraestrutura e segurança também tem o apoio da Iata. Um dos principais objetivos é ampliar a eficiência das operações, conforme explicou Julio Pereira, diretor de Segurança Operacional e Operações de Voo da Iata. Segundo ele, os parâmetros de segurança dos aeroportos brasileiros são muito bons e o principal desafio da indústria é aumentar a eficiência. Para isso, a Iata representa as companhias aéreas em alguns comitês da Anac e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
"Estudamos como utilizar o espaço aéreo da melhor forma. Hoje os nossos dois grandes projetos são no terminal São Paulo, que inclui os três grandes aeroportos (Guarulhos, Congonhas e Viracopos) e os satélites. Buscamos novas trajetórias de pousos e decolagens, pois o desafio é colocar o maior número possível de aviões no ar com a segurança necessária", contou o executivo, lembrando que esta regulamentação é feita pela Anac e pelo Decea. Segundo ele, hoje o Brasil conta com trajetórias bem ineficientes do ponto de vista do consumo de combustível, o que encarece e operação e acaba se refletindo no preço final das passagens. "O Decea lidera um projeto que quer rever todas estas rota", completou.
Outro projeto citado por Pereira é em relação ao Aeroporto de Guarulhos, que conta com duas pistas, mas não pode operar pousos e decolagens de forma simultânea, como acontece com outros aeroportos ao redor do mundo. Há estudos, no entanto, para que isso mude. "As duas pistas paralelas são separadas por 375 metros. Para a operação simultânea, o protocolo pede em torno de 1,2 mil metros, mas se forem 760 metros já ajudaria porque poderíamos ter operações de pouso e decolagem independentes. Temos estudos que mostram que esta distância pode ser de 210 metros se o piloto tiver a visão da pista e estamos tentando convencer o Decea", explicou. Segundo ele, o principal objetivo desta iniciativa não é o aumento das operações mas sim fazer com que as aeronaves não precisem fazer uma série de movimentos no ar para esperar a vez de pousar, o que economizaria o combustível.
ATIVIDADES DA IATA E PROL DO MERCADO
Prevenção de fraudes "“ Esta é também uma das atribuições da Iata. De acordo com Jefferson Simões, gerente de Soluções Aéreas da Iata no Brasil, a entidade trabalha atualmente em um projeto chamado Iata Financial Gateway, que pretende interligar as vendas das companhias aéreas por meio de um gateway, que vai contatar com o operador de cartão de crédito. "Existem muitas modalidades de fraudes e trabalhamos para minimizar isso", explicou.
Simões falou ainda sobre o NewGen ISS, que é a nova geração do BSP. Segundo ele, isso trará muito mais flexibilidade às agências. "As empresas poderão definir as suas próprias regras e definir políticas diferentes para distribuidores e canais diferente", explicou.