Nos próximos anos, devemos acompanhar uma série de ações das companhias aéreas para reduzir sua pegada de carbono. Afinal, voar de maneira mais sustentável não é uma opção: é um compromisso que foi assumido pela indústria global de aviação.
As quase 300 companhias que integram a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), que representa 83% do tráfego aéreo mundial, aprovaram no fim do ano passado uma resolução para que o setor reduza gradualmente as emissões de carbono e alcance emissões líquidas zero até 2050.
A aviação é responsável por 3,5% – e não 2%, como se pensava – do impacto humano sobre o clima, segundo um estudo de cinco anos liderado pela Manchester Metropolitan University, do Reino Unido, em colaboração com várias instituições acadêmicas e de pesquisa do mundo todo.
Chegar a emissões líquidas zero será um desafio e tanto, ainda mais com a projeção de que em 2050 a demanda seja de 10 bilhões de passageiros por ano. Mas, se a meta for alcançada, evitará a emissão de 21,2 gigatoneladas de CO2 nas próximas três décadas.
Para isso, o setor terá que tornar mais eficientes aeronaves, operações e infraestrutura, desenvolver novas tecnologias de propulsão, definir mecanismos de compensação – quando a emissão for inevitável – e, principalmente, utilizar combustíveis sustentáveis, denominados SAF (Sustainable Aviation Fuels), fator que diminuiria 65% das emissões de acordo com os planos da IATA.
Antes, porém, todas as companhias terão que cumprir uma resolução da International Civil Aviation Organization (Icao), das Nações Unidas, que determina que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) se mantenham nos níveis de 2019. Assim, qualquer crescimento de 2020 em diante precisa ser neutro.
Como as empresas aéreas estão reduzindo suas emissões de carbono no Brasil?
Para se ter uma amostra do quanto a aviação comercial tem se movimentando nesse sentido aqui no Brasil, reunimos as principais iniciativas anunciadas nas plataformas digitais de três empresas: Azul, Gol e Latam.
Azul Linhas Aéreas Brasileiras
A companhia está trabalhando para alcançar a neutralidade na emissão de carbono em 2045, cinco anos antes da meta global. Para isso, tem concentrado seus esforços na redução das emissões de GEE e na eficiência operacional.
Uma das principais ações é a constante renovação da frota, com aeronaves de última geração, mais eficientes no uso de combustíveis. A estratégia prevê ainda aeronaves totalmente elétricas a partir de 2025, com emissão zero de carbono, e tecnologias inovadoras como hidrogênio e biocombustíveis non-drop-in (que podem ser misturados a querosene de aviação).
Segundo a empresa, a Azul tem a frota mais jovem do Brasil, com idade média dos aviões de 6,6 anos. Em 2021, 60% das aeronaves eram de nova geração e o plano é atingir 83% no ano que vem e 100% em 2026.
Outras medidas da Azul para reduzir as emissões de sua operação:
- Visando diminuir o gasto de combustível, há uma busca por mais voos diretos, estudo de rotas mais curtas, otimização do uso dos aviões e redução do peso das aeronaves, evitando a entrada de materiais não necessários ao voo.
- São usados equipamentos de suporte no solo mais eficientes e sustentáveis.
- A empresa tem parcerias para desenvolvimento e produção nacional de SAF. Contribui, por exemplo, com o projeto Combustível do Futuro, liderado pelo Ministério de Minas e Energia.
- Faz parte de programas como GHG Protocol Brasil, Carbon Disclosure Project (CDP), Task Force on Climate-Related Financial Disclosure (TCFD), além de estar no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 e no Dow Jones Sustainability Index.
- É signatária do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, e do Science Based Targets (SBTi), que comprova a estratégia de redução de emissões com base científica.
- Está implantando um programa em que os clientes poderão compensar sua parte nas emissões dos voos, comprando os créditos de carbono do assento, que serão revertidos em projetos de compensação.
- Possui um hangar verde para manutenção de aeronaves em Confins (MG), o único do tipo na América Latina, com 100% de energia renovável e estação de tratamento de efluentes.
- Na companhia, a gestão de resíduos é uma questão importante. O material encaminhado para reciclagem aumentou de 2%, em 2019, para 62% em 2020.
- Em uma parceria com o selo eureciclo, é feita a compensação total das embalagens dos snacks distribuídas nos voos.
- Até o fim deste ano, devem ser eliminados 100% do consumo de papel no despacho de seus voos, por meio da digitalização da documentação obrigatória.
Gol Linhas Aéreas
Segundo a Gol, seus esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa incluem o aumento da eficiência no consumo de combustível, o desenho inteligente de malha aérea, avanços tecnológicos, melhorias operacionais e contribuição na cadeia de combustíveis alternativos.
A companhia foi a primeira do setor na América Latina a estabelecer o compromisso público de zerar suas emissões de CO2 até 2050 e também foi pioneira no lançamento de uma rota 100% carbono neutro no Brasil, de Recife-Fernando de Noronha (PE), em setembro de 2021.
Desenvolvida em parceria com a MOSS, uma das principais plataformas ambientais de créditos de carbono do mundo, a iniciativa que acaba de completar 1 ano neutralizou 7.295 toneladas de CO2 em 953 voos de ida e volta entre a capital pernambucana e o arquipélago.
Fundamental para o cotidiano de Noronha, a aviação comercial responde por metade das emissões de carbono do local. Com a ação, um quarto delas estão sendo neutralizadas.
As novas rotas de carbono neutro permitem que, a cada 100 toneladas de CO2 emitidas pelos dois trechos voados, a Gol garanta um hectare de Floresta Amazônica preservado.
A parceria com a Moss também possibilita que os passageiros compensem suas emissões durante a compra da passagem ou neutralizem trechos já voados, adquirindo créditos de carbono relativos às emissões previstas para o seu voo.
Outras iniciativas da Gol:
- A renovação da frota também é uma das principais estratégias para cortar emissões na Gol, substituindo as aeronaves atuais por modelos mais eficientes no consumo de combustível. Até o fim deste ano, o plano é que 32% da frota seja mais econômica.
- A partir de 2025, a aposta são as aeronaves elétricas. No último ano, a empresa assinou um protocolo de intenções para compra e/ou arrendamento de 250 unidades.
- A companhia é membro e fundadora de diferentes plataformas de bioquerosene voltadas ao desenvolvimento do combustível sustentável de aviação no país, em parceria com entidades, governos e empresas, além de participar de discussões do Programa Combustível do Futuro.
- É certificada pela IATA Environmental Assessment (IEnvA) Stage 1, que garante o desenvolvimento de uma clara política ambiental, e está em busca do selo IEnvA Stage 2, equivalente ao ISO 14000.
- Faz parte do Programa Brasileiro GHG Protocol, com classificação Ouro, apresentando voluntariamente o inventário de emissões de gases do efeito estufa, reportando suas emissões de gases do efeito estufa no Carbon Disclosure Project (CDP).
- Integra a Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), organização global que impulsiona o desenvolvimento de uma bioeconomia circular, e a carteira do Índice Carbono Eficiente (ICO2) da B3.
Latam Airlines
A caminho de também ser carbono neutro até 2050, a Latam se comprometeu a cortar 50% das emissões de seus voos domésticos até 2030.
Para isso, a estratégia principal são projetos colaborativos de conservação e compensação de ecossistemas icônicos na América do Sul, em áreas que incluem Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Chaco, por exemplo…