Entrevista com Dany Oliveira, diretor da IATA para Brasil.
- Os desafios à frente da IATA
A IATA, em seus mais de 70 anos de existência, possui uma missão muito clara e objetiva que é representar, liderar e servir essa nossa indústria! Dessa maneira, um dos grandes desafios é garantir que as empresas aéreas tenham um ambiente regulatório alinhado com as melhores práticas no mundo evitando-se assim que as mesmas operem em uma "colcha de retalho", onde cada país possui uma regra diferente trazendo grandes deficiências ao setor. No Brasil, ainda que tenhamos assinado a maioria dos tratados internacionais, eles não são aplicados em toda sua extensão. Um bom exemplo é a Convenção de Montreal. Embora nosso país tenha assinado e a ratificado em 2006, ainda existe uma assimetria em relação a operação de empresas aéreas nacionais e internacionais no tocante a atrasos e cancelamento de voos por motivos de força maior.
O ambiente regulatório brasileiro precisa realmente estar alinhado às melhores práticas mundiais. Países que promovem a aviação ao modernizarem o arcabouço regulatório, evitando um excesso de regulação e protecionismo, criaram as condições ideais para o crescimento da indústria, beneficiando a todos tanto pelo lado econômico como social "“ como exemplo podemos citar o Chile e Panamá na América Latina e tantos outros em diferentes regiões do planeta.
Outro grande desafio para todos nós é a redução do preço do combustível de aviação no mercado brasileiro. O monopólio da Petrobras e a altíssima carga tributária fazem com que o Brasil tenha um dos preços mais elevados do mundo! Para se ter uma ideia, a política de preços de paridade de importação do Brasil resulta em um sobre-preço de US$660 milhões por ano a todas as empresas aéreas que abastecem por aqui "“ o curioso é que mais de 75% do combustível de aviação comercializado no Brasil é produzido nas refinarias brasileiras, mas a formulação do preço leva em consideração que todo esse combustível é importado. Desenvolver uma política nacional de precificação do combustível de aviação, atrelada a uma fórmula transparente de preço para regular os abusos praticados é de fundamental importância para o estÃmulo da economia brasileira e o consequente crescimento sustentável do transporte aéreo em todo o país.
Por último, mas não menos importante, a infraestrutura aeroportuária precisa acompanhar com eficiência o crescimento da demanda estimada para os próximos anos, com um enfoque maior no controle dos custos para as empresas aéreas. As concessões tiveram pontos muito positivos como a robustez da regulação e uma formula clara de preços para as tarifas reguladas, as quais são ajustadas pela inflação e fatores de produtividade. Apesar dessa robusta regulamentação sobre tarifas aeronáuticas, as áreas essenciais e operacionais não foram incluídas nessas condições e, dessa maneira, as concessionárias estão atribuindo cada vez mais condições contratuais extremamente desfavoráveis às empresas aéreas.
O trabalho em conjunto da IATA com todos os atores pela busca contínua de uma aviação mais segura, eficiente, custos mais competitivos, acessível a todos e resultados sustentáveis é a verdadeira geração de valor e inovação para conectar cada vez mais as pessoas e melhorar o mundo.
- As perspectivas do mercado brasileiro para a aviação
O Brasil, sem dúvidas, é um dos mercados mais importantes para aviação. Depois de um período de crescimento acelerado, nos últimos anos, devido à aguda crise econômica que o país tem passado, as empresas aéreas nacionais e internacionais reduziram a oferta e os preços para manter a operação. Mesmo assim a demanda por transporte aéreo apresentou 19 meses consecutivos de quedas entre agosto de 2015 e fevereiro de 2017. A boa noticia agora é que a aviação brasileira tem registrado crescimento e com tendência a manter esse "plano de voo" para os próximos anos. A medida que a liberdade tarifária, que se iniciou em 2001, onde o Brasil tinha pouco mais de 30 milhões de passageiros ao ano para cerca de 113 milhões em 2017, é mantida e preservada, bem como outras importantes ações como desregulamentação de serviços acessórios, custos mais competitivos, principalmente no tocante ao combustível de aviação, regulamentação inteligente alinhada às melhores práticas do mundo são efetivamente implementadas, podemos esperar um crescimento pujante dessa indústria contribuindo fortemente para a economia brasileira e cada vez mais conectar nosso país ao mundo globalizado. Atualmente, a aviação no Brasil contribui com mais de 1,4% do PIB e suporta 1.1 milhões de empregos.
- O crescimento do segmento de ground handling no país
O crescimento esperado para nossa indústria é o catalisador para a expansão das atividades e desenvolvimento das ESATAs no Brasil. Operações terrestres seguras e eficientes são essenciais para a qualidade e ampliação das operações das empresas aéreas e por isso a IATA tem criado vários projetos nessa área em parceria com as ESATAs. Esses projetos estão concentrados em quatro pilares essenciais: 1) redução de danos, incidentes operacionais e afastamentos de pessoal através de processos padronizados e treinamento; 2) eficiência operacional e prestação de serviços de qualidade através da melhoria contínua, inovação e uso da tecnologia; 3) mercado aberto e eficaz e 4) programas de sustentabilidade.
Essa ousada agenda é liderada pelo Ground Operations Group, com o apoio de Grupos Técnicos de Operações Terrestres, formados por ESATAS, empresas aéreas e outras partes interessadas do setor.
- O que ele traz de experiencia para a IATA
Comecei minha carreira como estagiário na EMBRAER em 2000. De lá para cá tive a oportunidade de me envolver em diversos projetos, na terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, nas áreas de inteligência de mercado, planejamento estratégico e vendas até que me juntei a Delta Air Lines para suportar o desenvolvimento de alianças e parcerias estratégicas com a GOL e AeroMéxico "“ uma experiência singular poder trabalhar em uma das melhores empresas aéreas do mundo. Já nesses últimos anos, recebi um desafio do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte para atuar como responsável pelo desenvolvimento de negócios com as empresas aéreas podendo contribuir em vários projetos na concessão, operação e geração de negócios para o aeroporto.
Acredito que esses quase 20 anos de experiência em três diferentes setores da cadeia de valor irão ajudar na liderança das atividades da IATA aqui no Brasil ao complementar a vasta experiencia e expertise das pessoas que formam essa tão tradicional e respeitada associação.
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