Poucos dias após completar 90 anos e 51 anos após criar uma das empresas mais tecnológicas do Brasil, o fundador da Embraer, Ozires Silva, defende que «a sociedade produza constantemente profissionais capacitados, corajosos e com espírito empreendedor» para que novas companhias com potencial inovador surjam no País. Para isso, diz ele, é necessário investimento em educação. «Se houvesse mais instituições educacionais do nível do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em outras áreas de conhecimento, certamente os cidadãos realizariam maiores proezas no desenvolvimento de empresas e do País», afirmou, em entrevista por e-mail.
Hoje presidente do conselho de inovação da Ânima Educação – empresa que reúne instituições de ensino superior como São Judas e Unisul, entre outras -, Silva diz que a Embraer tem capacidade para se manter competitiva mesmo diante de um cenário adverso que reúne a pandemia da covid-19 e a frustração com o fim do acordo com a Boeing. Em abril do ano passado, a americana desistiu de comprar a unidade de aviação comercial da brasileira, um negócio de US$ 4,2 bilhões.
«A linha de aviões executivos (da Embraer) é muito moderna e customizável. Esse segmento está ajudando a empresa a manter um adequado nível de atividades, em especial durante este período da pandemia de covid-19, que tem atingido fortemente a aviação comercial. (…) O segmento da aviação comercial recuperará sua atividade após a pandemia e a Embraer estará pronta para manter sua atuação competitiva», afirmou.
Confira, a seguir, trechos da entrevista.
Em 2018, o senhor estava animado com a possível venda da unidade de aviação comercial da Embraer para a Boeing. Como recebeu a notícia, no ano passado, de que a Boeing havia desistido da compra?
Eu não diria que estive animado com a venda, embora reconhecesse os motivos que a sustentavam. A compra da canadense Bombardier pela Airbus daria a um dos maiores competidores da Embraer (a Bombardier) um grande fôlego para crescimento. A Boeing percebeu que a Embraer seria o melhor caminho para competir com a Airbus no campo da aviação regional. Porém, as negociações entre Boeing e Embraer foram muito difíceis e a configuração final era de complexa execução, o que me deixava preocupado. Na sequência, a Boeing passou a enfrentar problemas com um avião recentemente lançado no mercado, o 737-500 MAX, que passou a exigir enormes gastos em investigações e ressarcimentos, mudando sua prioridade. O negócio foi encerrado. Penso que a Embraer será capaz de encontrar seus caminhos sem a Boeing.
Sem a Boeing e após a Airbus ter comprado o programa de jatos comerciais da Bombardier, como fica a situação da Embraer?
A Embraer sempre foi uma empresa muito competitiva. Ela tem uma extensa linha de aviões tanto comerciais quanto executivos. A linha de aviões executivos é muito moderna e customizável. Esse segmento está ajudando a empresa a manter um adequado nível de atividades, em especial durante este período da pandemia de covid-19, que tem atingido fortemente a aviação comercial. As pessoas incorporaram a mobilidade regional e internacional ao seu estilo de vida. O segmento da aviação comercial recuperará sua atividade após a pandemia e a Embraer estará pronta para manter sua atuação competitiva.
Qual estratégia a Embraer deve adotar para sobreviver ao mercado mais competitivo e à crise da pandemia, que praticamente paralisou a indústria aeronáutica?
A Embraer tem uma incrível equipe de gestores, engenheiros, fornecedores e colaboradores nas mais diferentes áreas. Tem também um dos melhores portfólios de aeronaves para seus clientes. Não atuo mais na empresa há muitos anos, por isso não posso falar sobre sua estratégia. Mas não tenho nenhuma dúvida de que a empresa está muito bem equipada para avançar e continuar sendo um player de enorme importância no setor…